O que relembro, escondo
Não me pergunte se estou bem
Não há nada agora que me faça parar e voltar a uma nossa antiga memória. Me pergunte se estou bem e irei mentir sobre a longa demora que me cravou as unhas no pescoço e tirou meu sangue tão rápido enquanto me sugava feito seringa. No mesmo instante em que drogava e me deixava possesso em puro êxtase no meu pequeno grande mundo disperso.
Não me pergunte se ainda estou bem depois das mentiras que tive que engolir feito seu sêmen, seco e com desdém. Como era amargo e em pura proteína eu finalmente me toquei que estava errado sobre mim mesmo e que todo gozo que desfrutei era de um imenso erro e desgosto. Pelo tempo que durou, por tudo o que me levou e pela marca que me deixou. Eu estou propenso a não estar bem e o cheiro das suas nádegas no meu rosto indica que já estive completamente melhor.
E mesmo assim você pergunta. Não consegue se calar e ouvir o que lhe digo. Do que valeu todo o orgasmo que tivemos juntos se em nenhum momento você foi leal comigo. E agora é isso que eu reivindico. Todo prazer que eu senti era por saber que você compartilhava o mesmo que eu sinto. Mas a realidade é que eu vivia preso e iludido. Não por você, mas por tudo o que eu criei e por cada idealização que eu já inventei.
Por isso você não vai saber como eu estou. Não posso te contar cada onda que me encantou, cada beijo meu que você roubou e cada gemido que nos seus ouvidos chegaram perto do meu grande precipício e mesmo assim eu dançava para o abismo ouvindo apenas os seus sussurros. Tudo o que aconteceu volta para o mesmo momento em que tudo se perdeu. Não posso mais contar com você e nem nos seus peitos voltar a adormecer.
Agora mesmo eu sei o porquê que na nossa última noite o seu sorriso me derreteu. O nosso último fumo em mim não bateu. E o último copo de vinho que tomei me doeu no intestino e me fez lembrar de cada segundo que passei ouvindo os seus risos. Você não tem ideia de como você afetou tudo o que sinto. Não mais raiva e nem ciúmes. Tudo o que eu passei gerou em mim a necessidade de me reconstruir e em um erro que, como a paixão ou o desprezo, nunca mais irei repetir.
Mesmo assim eu posso insistir. E eu sei que vai brotar em mim essa vontade de rugir. De falar com as paredes e me tocar com todo o macete. Vou estar inteiramente só, mas me acompanhando em cada dobra de nó. E ao decorrer dos meses posso me pegar pensando em você. Ainda assim sei que você não vai entender o que talvez eu venha a dizer. Que lá no fundo ainda existe algo que pensa e me ligue a você. Mas não posso esquecer que nunca me conectarei novamente com o que vivi com você. Triste agora ando eu por saber que infeliz sigo questionando a profundeza do meu querer em outro ser.
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