Ai, outra vez no contra
O tempo não espera, só aflora
O tédio está mais forte que nunca. Quero que o tempo passe logo, mas também quero que não dure por muito tempo. O que devo fazer? Uma oração? Que seja.
Oh senhor tempo, sei que você nunca volta, mas sempre dá para o ajeitar na demora que perdi o esperando na porta. Me vejo tão pobre agora. Com o corpo sujo e sem muita memória. Devo dizer que no futuro eu tinha mais que uma simples meia cara torta. Hoje é o meu corpo que se entorta na esperança de saber que no passado mantive uma boa história.
E continuo observando que o tempo realmente não tem portas, mas eu possuo lágrimas que escorrem sem saber que a vida não é feita só de longas histórias. Estou sadio e agora com os pés por dentro da porta. Tudo está calmo, tudo está parado. Mas o peido ainda é um som que me lembra o cheiro de armários fechados. Nenhuma rua será a mesma depois dos pensamentos que se esconderam com medo de tiros estreitos e gritos em forma de aparelhos.
Talvez algo que eu diga não tenha muito sentido. Mas essa é a vida que levo ao tentar achar que sei de todos os motivos. A mancha de sangue me diz que estou a passos de perder a entrada pelo umbigo. O tédio ainda é o meu pior amigo e no ócio eu me perco tentando fazer que tudo tenha algum sentido.
Onde quero chegar com tudo isso? Em lugar nenhum. Só quero esclarecer um talvez mal-entendido. A culpa será do tempo, é claro, porque é ele que conduz o planeta, que coloca cabelos brancos na cabeça, que endurece ou amolece corações e que é capaz de mostrar um fim ao que até então se escondia em uma grande ilusão.
Continuo tolo por achar que o tempo irá parar ara me contemplar. As curvas que carrego no corpo são sinais de que existem muito mais perigos como estes. Pois hoje eu me encontro preso e o tédio vem sobre mim feito gelo. Ao mesmo tempo que queima, me mantém refrescado. A saudade que mantive da época em que estive são, em que estive livre e em que estive em vão... São ou só podem ser ou terem alguma forma concreta para me enlouquecer. Porque estive em chãos firmes, mas não me dava conta por onde pisava. Hoje posso dizer que talvez seja ao contrário. Me pego em chões mais líquidos do que a água e vejo que o tempo que passa me sufocará com as lembranças que eu sonhara.
Ai, outra vez vejo que me coloco no contra. Outra vez vejo não conseguindo enxergar uma solução no meio de um temporal consciente. Outra vez me pego ignorando fatos, esquecendo recordações amigáveis e cada vez mais distante do que um dia esteve tão próximo que me recusei a beijar. "Outra vez" penso eu, vendo que os passos que se aproximam irão destruir memoriais que me distanciam do nada que me cativa e que mantem escravizade. Quantas outras, me pergunto, irão me aproximar da beira ou me arrastar do final da ladeira. Quantos sons terei que ouvir, quantos cheiros terei que sentir e quantos objetos terei que tocar para poder me dar conta que quase tudo tem realmente o seu lugar. E o tempo, não como um docente, mas como um conducente me levará a um final tempestuoso e submissamente o encontrarei, talvez sim ou talvez não, ainda contente.
Mas não importa o tempo e nem aonde eu esteja. Não importa se a solidão ou a solitude estiverem em cima da mesa. Ainda terei que sozinho me recordar do tempo perdido. E que tempo, tempo este que dê conta de todas as besteiras e incertezas que uma mente arteira foi capaz de tramar. Que o último traço de tempo que saia por minhas narinas volte a fazer parte de um tudo que mesmo sem mim, se encontra agora no tumulto, na confusão e será através desta bagunça que talvez ele encontrará alguma solução. Ou pode ser que não. Se eu estiver errado o certo ganhará alguma noção. O que foi escondido no escuro agora no claro ganhará o seu merecido tributo. Se eu estiver errado, o tempo que foi gasto não será recompensado. Mas foi vivido, isso é o que importa.
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