A mutilação aconteceu
O sangue derramou
Me cortei pela primeira vez. Meu sangue saiu pelo pulso e confesso que achei a dor suportável. Não sei se continuarei a me mutilar, vejo que não. Mas não irei parar de me sabotar. Posso não derramar sangue novamente, mas ainda me verei que tenho uma luta um para travar.
Se eu não devesse trinta reais a uma amiga, talvez ontem eu tivesse tirado a minha vida. E não sei por que motivos eu continuaria nessa. Estou cansado e olha que sou tão jovem. Tenho motivos para fazer isso? Me pergunto sem saber a resposta.
Agora eu carrego comigo uma marca, uma cicatriz. Toda vez que eu olhar para ela vou me lembrar que naquele dia eu poderia ter morrido. Além de me cortar, eu tomei alguns comprimidos. Foram mais do que o receitado. Acredito que por overdose de antidepressivo eu terei uma morte mais tranquila. Não derramarei sangue e não sofrerei no agito. Não sei, serat que tenho que confessar novamente que sou eu o meu pior inimigo?
E se esse dia se repetir e dessa vez eu não estiver devendo nada a ninguém. E se essa dor for insuportável que me levasse novamente a mutilação ou overdose por comprimidos. E se esse peso pesasse tanto que me impedisse de andar com a cabeça erguida. E se realmente não tiver volta... São tantas duvidas, são tantas incertezas, são tantas chances para mudar que não sei o que eu posso escolher ou pensar.
Tenho que confessar que não estou bem, mas não me sinto mal. Não sinto nada.
Não, eu não posso dizer que não sinto nada. É ao contrário, sinto tanta coisa que beira ao incompreensível. Não consigo dar nome aos bois, não consigo dizer exatamente como me sinto. Mas sou capaz de dizer o que não sinto e eu não me sinto mal, não me sinto bem. Sinto culpa, culpa por uma existência. Me sinto inseguro e fico desacreditado do meu potencial. Não vejo valor em mim mesmo. Não vejo nada agora. Mas eu minto.
Só queria que isso passasse. Eu sinto que não vivo, mas sim sobrevivo e estou cansado disso. Se for para não viver que eu pare de respirar, mas que eu volte a respirar se for para não tirar a minha vida. Se for para permanecer vivo que meus pulmões se encham de ar e também de esperança, de ânsia e de vontade.
Estou chegando ao ponto de escassez. Não vou conseguir tirar mais nada significativo. Vou chegar ao fundo do poço e lá montarei um abrigo. Já me sinto melhor por estar escrevendo, mas não sei por quanto tempo vou continuar a sentir isso. Tenho medo que eu não consiga me controlar e da próxima vez sinto que posso passar das barreiras e não conseguir me dominar. Mas enfim, torço para que nada aconteça e para que eu volte a escrever as minhas besteiras.
Mas antes de ir, queria dizer que não quero acreditar que em outra vida eu posso me encarnar. Não quero nascer novamente. Só devo viver uma vez, sem encarnar em nada. Me sinto culpado por não fazer nada de significativo para salvar o planeta Terra. Imagino que daqui para frente as coisas só irão piorar e nada de grande valor eu poderei deixar. Então, por favor universo, me diga que só viverei uma vez.
Mas é claro que não terei respostas. Posso dizer que a incerteza que isso me gera possa ser a única coisa que me mantém vivo. Não quero ser gerado novamente, não quero voltar como nada, nem animal e nem ser humano. Só quero sumir, parar de nadar e deixar a correnteza me levar para nenhum lugar. Mas só em pensar que em outra vida eu posso voltar e sem saber como e onde será sinto um enjoo por nada poder contar.
Então volto para esta vida. Volta a me olhar no espelho e a me sentir em carne e pele. Volto a pensar e para falar a verdade, agora eu só penso em me matar. Não quero novamente me mutilar, mas se for preciso irei o meu sangue derramar ou todos os compridos da cartela irei tomar.
E o tempo passa e essa sede continua. O beijo se acelera e o medo me aflora a expectativa. Não sei mais o que dizer, só queria que o tempo compensasse a espera. Estou cansado, mas não deveria estar. Tenho muito o que andar, tenho muito o que fazer mas tão cedo irei me interromper. Com dezenove anos irei morrer.
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