Não queria, mas já fui cruel

Não queria ser cruel

Juro que eu não queria, mas o que posso fazer para evitar essa maldade que sinto em minhas entranhas. Deveria ser o contrário, não reproduzir o mal que já fizeram comigo nos outros. Deveria passar por isso e só entregar bondade, pureza e harmonia.

No fundo eu não queria fazer mal aos gatos, não queria apertá-los com tanta força e nem provocar a sua raiva repetidas vezes. Mas não sei o que acontece, não sei o motivo ou o porquê deu querer fazer isso com os coitados. Deveria contar a minha história com o pato.

Eu acredito que tinha uns sete a oito anos, ainda era um gurizinho. Ganhei um pequeno pato de presente de uma tia e no primeiro momento, como qualquer criança, eu gostei de recebê-lo. Não me lembro de ter dado um nome para ele, mas o fim que isso levou faz com que meu coração se parta novamente ao lembrar.

Não recordo de muita coisa agora, só lembro que toda noite eu ia até onde ele ficava e sem nenhum sentimento jogava ele para todos os lados, era uma sessão de tortura. E eu chegava a ver o medo nos olhos do pequeno pato.

Isso se repetiu por alguns dias seguidos até que em uma manhã ele já se encontrava morto. E eu me lembro que um avô ao encontrar ele pela manhã chegou a pensar que teria sido algum animal que torturou o bichinho. Não passava pela cabeça que um menino de sete a oito anos havia maltratado aquele animal a chegar ao ponto da sua morte.

Na época eu não sentia nada. Era indiferente e não sabia o motivo de ter feito aquilo. Hoje já consigo me sentir culpado e fico um pouco triste ao lembrar da situação que coloquei ao animal. Se sou ou fui ruim, eu não sei. Mas isso não é uma boa história para se contar aos amigos.

Hoje, fico imaginando se aquele pato morto não me trouxe algum karma que nem eu sei explicar. Talvez ele justifique toda dor que eu sinto, todo o pesar que eu carrego e toda culpa que eu escondo.

Eu posso dizer que gosto de animais. Mas sei que lá no fundo ainda existe algo que sente prazer em causar dor. Talvez eu esteja enganado ou falando besteira. Porque eu não quero carregar isso comigo. Não quero sentir prazer em dor alheia e muito menos em animais.

Se eu voltasse no tempo eu me pararia e não permitiria que aquele pato tivesse uma morte dolorida e fria. Não desejo isso para nenhum animal. Mas o que posso fazer? Será que essa natureza está presa dentro de mim e eu não consigo enxergar de onde ela possa vir.

Queria dizer que nunca mais tratei mal nenhum animal, mas estarei mentindo. Não chegou ao ponto da morte, mas já tive algumas "brincadeiras" um tanto perversas para com os gatos.

Eu não sou só amor, também carrego dor e escondo arrependimentos. Queria manter essa natureza longe, não ter acesso a ela. Digo que isso me faria uma pessoa melhor... Mesmo assim, ainda consigo ter empatia para com os animais, nunca chegando ao ponto de tirar sangue ou torturar com uma dor perversa... Só consigo ver que esse amor que carrego passa longe do sentimento que demostro.

Novamente, bem no fundo eu sou uma pessoa boa, um pouco fria, talvez amarga, mas ainda assim boa. Não trago justificativa para o que faço e de longe passa o que sinto. Não acharia ruim se um animal ou gato não gostasse da minha energia. Vivo de forma consciente e procuro manter essa natureza apagada, distante e inacessível.

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