Bordas em papel

 Redmer Hoekstra arte

Escrevo para um fim 

sem fim 
para ficar gravado aqui.

...

Escrevendo sem fim com um ponto que só para no fim

Estou estou sem respirar há dias e parado continuo me movendo estando aqui mas também

em qualquer lugar e aflito digo que sim e te peço que por suas entranhas pares de falar de ouvir de pensar e saiba que vai ser ainda 

melhor parar também de continuar mas não consigo então peço e suplico que pare mas também que continue e não pare por favor continue sem parar.

↮
XIX 

Não quero ir para o céu,
nem para o inferno

The centaur by Simakov Vladimir

Não quero acreditar que
existam lugares assim.

Quero morrer em paz
e purgado pela dor.

Não quero sentir mais
nada.
Nem frio, nem luto
e nem dor.

Rogo ao universo que
não exista nada para
além da morte.

Não quero voltar como
humano e nem como
um animal.

O que eu quero é
deixar de querer.

Quero ser consumido
por larvas e voltar
a virar nada.

Nem deus ou diabo,
nem santo ou exu.

Que o nada me
consuma.

Que o tudo me
esqueça.

Que à noite não
tenha fim.
Que o dia escureça
em mim.

E voltarei ao esquecimento,
da mesma forma
que fui lembrado.

Não vou deixar
bilhete e nenhum
recado.

Só posso deixar
frases, saudades
e poesias.

Deixo também o
que não fui.
O que fingir
ser
E onde escolhi
permanecer. 

OUTRA PARTE DO MESMO DIA

Estive no paraíso

Ship On Stormy Sea by Ivan Aivazovsky

e ao mesmo tempo

em um precipício.

Estive dente, mas

nunca me senti

tão são.

Estive com frio e

nunca senti tanto

calor.

Estive no céu

e nunca quis 

tanto estar no

inferno.

Estive em dor

e nunca achei

tamanha paz.

Estive tão longe

de você, mas

nunca te senti

tão perto.

Estou morto

e nunca me

senti tão vivo.

PESADELO DE UMA MADRUGADA
26.out.2019

Atacaram tudo o que construímos

Explodiram nossas estátuas,

invadiram nossas casas e

levaram nossas bandeiras.

Tudo isso aconteceu de

dentro. Onde achávamos

que estávamos seguros.

Foram tão cruéis que me espanta

tê-los reconhecido seus rotos.

Acabaram com tudo!

E eu me perguntei: o que

vamos fazer agora?!

Não nos resta nenhum lugar

para retornar. Nada vai ser

como antes.

O que vamos fazer com nossas

memórias?

Explodiram bem na nossa frente.